domingo, 21 de fevereiro de 2010

O PRECURSOR

(Gibran Khalil Gibran)

TU ÉS teu próprio precursor, e as torres que construíste nada são senão alicerces para teu Eu gigante. E esse Eu também será um alicerce.
Eu também sou meu próprio precursor, pois a longa sombra que se estende diante de mim ao alvorecer juntar-se-á sob meus pés ao meio-dia.
Entretanto, outra aurora lançará outra sombra diante de mim, e esta também se juntará num outro meio-dia.
Sempre temos sido nossos próprios precursores, e sempre o seremos. E tudo o que temos colhido e o que vamos colher não serão senão sementes para campos ainda não lavrados. Nós somos os campos e os lavradores, os colhedores e a colheita.
Quando eras um desejo errante na neblina eu também estava lá, um desejo errante. Então nos procuramos um ao outro, e da nossa ansiedade nasceram sonhos. E os sonhos eram tempo sem medida, e os sonhos eram espaço sem limite.
E quando eras uma palavra silenciosa nos lábios trêmulos da Vida, eu também estava lá, outra palavra silenciosa. Então, a Vida nos pronunciou, e viemos descendo através dos anos, estremecendo com as lembranças de ontem e as esperanças de amanhã; pois o ontem era a morte vencida e o amanhã era o nascimento procurado.
E agora estamos nas mãos de Deus. Tu és um sol em sua mão direita, e eu sou uma terra em Sua mão esquerda. Entretanto, não és mais, emitindo a luz do que eu, recebendo-a.
E nós, sol e terra, não somos senão o começo de um sol maior e de uma terra maior. E sempre seremos o começo.
Tu és teu precursor, tu, o estranho que passa pelo portão do meu jardim.
E eu também sou meu próprio precursor, embora esteja sentado à sombra de minhas árvores e pareça inerte.

(do Livro: “O PRECURSOR”)

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