sexta-feira, 27 de novembro de 2009

COMPREENSÃO E TRANSCENDÊNCIA

Sexo, Amor e Oração:

Três Passos ao Divino

Descreva-nos, por favor, o significado espiritual da energia sexual. Como podemos sublimar e espiritualizar o sexo? É possível ter sexo, fazer amor com meditação, como um trampolim em direção a níveis mais altos de consciência?

Não há tal coisa chamada energia sexual. A energia é uma e a mesma. O sexo é uma saída para ela, é uma direção para ela; é uma das aplicações da energia. A energia da vida é uma, mas ela pode manifestar-se em muitas direções. O sexo é uma delas. Quando a energia da vida torna-se biológica, torna-se energia sexual.

O sexo é apenas uma aplicação da energia da vida. Assim, não há a questão da sublimação. Se a energia da vida flui em outra direção não há sexo. Mas não é uma sublimação; é uma transformação.

Sexo é o fluxo natural, biológico, da energia da vida e a aplicação mais baixa dela. É natural porque a vida não pode existir sem ela, e a mais baixa porque é a fundação, a base, não o cume. Quando o sexo torna-se a totalidade, toda a vida é apenas uma perda. É como se fizéssemos um alicerce e continuássemos a fazê-lo sem jamais construir a casa para a qual o alicerce é destinado.

Sexo é apenas uma oportunidade para uma transformação mais alta da energia da vida. No que diz respeito a ele em si está correto, mas quando o sexo se torna o todo, quando converte-se na única saída para a energia da vida, então torna-se destrutivo. Pode ser apenas o meio, não o fim. E os meios tem significado somente quando quando os fins são atingidos. Quando um homem abusa dos meios, todo propósito é destruído. Se o sexo se torna o centro da vida (como tem se tornado), então os meios se tansformam nos fins. O sexo cria o alicerce biológico para a vida existir, continuar. Isto é um meio; não deveria se tornar um fim.

No momento em que o sexo se transforma no fim, a dimensão espiritual se perde. Mas se o sexo se torna meditativo, então é direcionado a dimensões espirituais. Ele converte-se na pedra de alicerce, num trampolim.

Não há necessidade de sublimação, porque a energia como tal, não é nem sexual, nem espiritual. A energia é sempre neutra. Em si mesma, ela é inomimada. Ono me não é o nome da energia em si; é o nome da forma que a energia toma. Quando você diz que a energia é sexual, significa que a energia flui através de uma saída sexual, através de uma saída biológica. A mesma energia é energia espiritual quando flui ao divino.

A energia em si é neutra. Quando é expressa biologicamente é sexo; expressa emocionalmente pode tornar-se amor, pode tornar-se ódio, pode tornar-se raiva; quando se expressa intelectualmente, pode tornar-se científica, pode tornar-se literária; quando se move pelo corpo, pode tornar-se física; quando se move pela mente, se transforma em mental. As diferenças não são diferenças da energia como tal, mas das manifestações aplicadas dela. (...)

Você pergunta o que o indivíduo pode fazer com relação ao sexo. Qualquer coisa feita diretamente ao sexo é uma repressão. Há somente métodos indiretos com os quais você não se relaciona de forma alguma com a energia sexual, ao invés disto, você busca abrir a porta do divino. Quando a porta ao divino se abre, todas as energias que estão em você começam a fluir em direção a essa porta. O sexo é absorvido. Sempre que um deleite mais alto torna-se possível, as formas mais baixas de prazer tornam-se irrelevantes. Você não deve reprimi-los ou lutar contra elas. Elas apenas murcham. O sexo não é sublimado; é transformado.

Qualquer coisa feita negativamente com o sexo, não transformará a energia. Ao contrário, criará um conflito dentro de você que será destrutivo. Quando você luta contra uma energia, você luta contra você mesmo. Ninguém pode ganhar a luta. Num momento você sentirá que venceu. Isso acontecerá continuamente. Às vezes não haverá sexo e você sentirá que o controlou e no momento seguinte sentirá o impulso do sexo de novo e tudo que você parecia ter ganho será perdido. Ninguém pode vencer uma luta contra a sua própria energia.

Se as suas energias são necessárias em algum outro lugar, em algum lugar mais deleitoso, o sexo desaparecerá. Não que a energia esteja sublimada. Não que você tenha feito algo. Ao contrário, um novo caminho em direção a deleite maior abriu-se para você e automaticamente, espontaneamente, a energia começa a fluir em direção à nova porta. (...)

Sublimação é uma palavra feia. Carrega um tom de antagonismo, de conflito nela. O sexo deveria ser encarado pelo que é. É apenas o alicerce biológico para a vida existir. Não lhe dê qualquer significado espiritual ou antiespiritual. Simplesmente entenda-o como o fato que é. (...)

Assim como você tem olhos e mãos, também você tem sexo. Você não é contra os seus olhos ou suas mãos. Não seja contra o sexo. Você não é contra os seus olhos ou suas mãos. Não seja contra o sexo. Então, a questão do que fazer com relação ao sexo torna-se irrelevante. Criar uma dicotomia a favor ou contra o sexo é sem sentido. É um fato dado. Você veio à existência através do sexo. E você tem um programa esquematizado para novamente dar nascimento através do sexo. Você é parte de uma grande continuidade. Seu corpo vai morrer. Ele tem um programa estabelecido para criar outro corpo para substituí-lo.

A morte é certa. Eis porque o sexo é tão obscecante. Você não estará aqui para sempre, assim você terá que substituí-lo por um corpo mais novo, uma réplica. O sexo é tão importante, porque toda a natureza insite nele; caso contrário, o homem não poderia continuar a ser. Se fosse voluntário, não haveria ninguém na Terra. O sexo é tão obcecante, tão compulsivo, o impulso sexual é tão intenso, porque toda a natureza é a favor dele. Sem ele, a vida não poderia existir. (...)

Assim, bramacharya (celibato monástico, para os hindus) tornou-se critério para saber se a pessoa alcançou o divino. Então o sexo, tal como existe nos seres normais, não existirá para ela.

Isto não significa que por abandonar o sexo, alguém atingirá o divino. O reverso é uma falácia. A pessoa que encontrou diamentes, joga fora as pedras que estava carregando, mas o reverso disto não é verdadeiro. (...).

Então você estará num meio-termo. Você terá uma mente reprimida, não uma mente transcendente. O sexo continuará a borbulhar dentro de você e criará um inferno interior. Isto não é ir além do sexo. Quando o sexo torna-se reprimido, torna-se feio, doentio, neurótico. Torna-se pervetido.

A assim chamada atitude religiosa com relação ao sexo criou uma sexualidade pervertida, uma cultura que é completamente neurótica sexualmente. Eu não sou a favor dela. Sexo é um fato biológico; não há nada errado nele. Assim, não o combata ou ele se tornará pervertido, e o sexo pervertido não é um passo para a frente. É uma queda para baixo da normalidade; é um passo em direção à insanidade. Quando a repressão torna-se tão intensa que você não pode prolongá-la, então ela explode _ e nessa explosão, você se perderá. (...).”

Bhagwan Shree Rajneesh (Osho)

Do livro: PSICOLOGIA DO ESOTÉRICO. Ícone. São Paulo. 1991

“ABSTINÊNCIA:

“Você pode ser um celibatário, mas ser um celibatário não significa ter ido além da sexualidade. A sexualidade já está em você. A partir do momento em que estava no útero de sua mãe, você já era um ser sexual. Não há como evitar isso. Tudo o que pode fazer é reprimir esse aspecto. Você irá se tornar pouco natural, e toda a sua vida será uma vida pervertida. A repressão é possível, mas a transcendência não.”

TRANSCENDÊNCIA:

“A transcendência é exatamente o que define a meditação. Cada um de nós precisa transcender três coisas para que a quarta seja alcançada. A quarta coisa é nossa verdadeira natureza. Gurdjieff costumava chamar isso de “o quarto caminho”, e, no Oriente, temos chamdo o estado último do ser de turiya, “o quarto”.

Temos que transcender o corpo_ essa é nossa borda mais externa. Temos que nos tornar perceptivos de que estamos no corpo, mas não somos o corpo. O corpo é belo e precisamos cuidar dele, é preciso amar o próprio corpo. Ele está servindo a você da forma mais bela. Nunca devemos nos colocar de forma antagônica ao corpo.

As religiões ensinaram as pessoas a renegarem seus corpos, a torturarem seus corpos. Chamam isso de “ascetismo”. Isso é uma completa estupidez! Pensam que, se torturarem o corpo, serão capazes de transcendê-lo. Estão completamente errados.

A única forma de transcedência é através da percepção, não da tortura. Não há sentido nessa tortura! Você não tortura sua casa: você sabe que você não é a sua casa, ela é apenas uma moradia. Basta ter essa percepção. Não é preciso jejuar, não é preciso ficar apoiado sobre sua cabeça, não é necessário contorcer seu corpo em mil e uma posturas. Apenas observe, torne-se perceptivo, isso basta. A mesma coisa é a chave para outras transcendências.

Em segundo lugar, você tem que transcender a mente. Ela é um segundo círculo concêntrico, que está mais próximo de seu ser do que seu corpo. O corpo é mais grosseiro, a mente é mais sutil, e depois há algo ainda mais sutil: seu coração _ o mundo de seus sentimentos, emoções, humores. Mas a chave é a mesma.

Comece pelo corpo porque ele é a coisa mais fácil de ser observada. É um objeto. Pensamentos também são objetos, mas são menos visíveis. Uma vez que tenha se tornado perceptivo em relação ao corpo, você também será capaz de observar seus pensamentos. E uma vez que tenha se tornado perceptivo de seus pensamentos, você será capaz de observar seus humores também, mas estes são os mais sutis. Então é apenas no terceiro estado que essa percepção deve ser buscada. Uma vez que uma pessoa passe a estar perceptiva desses três círculos concêntricos em torno de seu próprio centro, o quarto suge por conta própria. Subitamente você sabe quem você é _ não verbalmente, porque não recebe uma resposta, não pode explicar isso a ninguém, mas você sabe. Da mesma forma que sabe quando tem uma dor de cabeça, está com fome ou sede, ou ainda que se apaixonou.

Você não pode provar isso, não há como provar isso, mas você sabe. E esse saber é evidente em si mesmo: não há como suspeitar dele, é inquestionável. Quando alguém atinge o quarto estágio, esse alguém transcendeu o mundo.

Eu não ensino a renúncia ao mundo. Ensino a transcendência do mundo, e esse é o caminho.”

Osho de A a Z. Sextante. São Paulo. 2004.

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