Mas para milhões, nada existe. A sociedade tirou todas as suas possibilidades de crescimento. Eles estão amarrados. As pessoas cometem suicídio porque elas estão se sentindo amarradas e não vêem algum jeito de sair dessa situação. Elas chegaram a um beco sem saída. E quanto mais inteligente você for, mais cedo você chegará a esse beco sem saída, a esse impasse. Então, o que se espera que você faça? A sociedade não lhe dá alternativa alguma nem permite uma sociedade alternativa. O sannyas é uma sociedade alternativa. Parece estranho que na Índia a taxa de suicídio seja a mais baixa do mundo. Logicamente deveria ser a mais alta, porque as pessoas estão sofrendo, são miseráveis, estão famintas. Mas este estranho fenômeno acontece em todo lugar: o povo pobre não comete suicídio. Eles não têm um motivo para viver, nem para morrer. Uma vez que eles estão famintos, a sua ocupação é com comida, abrigo, dinheiro, coisas assim. Eles não podem se dar o luxo de pensar em suicídio; eles não têm ainda essa abundância. Os Estados Unidos têm tudo enquanto a Índia nada tem. Há poucos dias, eu estava lendo um texto que dizia, ‘Os americanos têm um risonho Jimmy Carter, Johnny Cash e o Bob Hope, enquanto os indianos têm um seco, insensível e morto Morarji Desai, nenhum dinheiro (cash) e muito pouca esperança (hope).’ Mas, ainda assim, as pessoas não cometem suicídio. Elas continuam vivendo e curtindo a vida. Mesmo os mendigos estão vibrantes e excitados. Não há motivo algum para excitação, mas eles têm esperança. Por que o suicídio acontece tanto nos Estados Unidos? Os problemas comuns da vida desapareceram, a mente está livre para elevar-se além da consciência comum. A mente pode elevar-se além do corpo, além dela mesma. A consciência está pronta para abrir suas asas, mas a sociedade não o permite. Em cada dez suicídios, nove são de pessoas sensíveis. Vendo a falta de sentido na vida, a indignidade que a vida impõe, os compromissos que têm que assumir em troca de nada, vendo toda a melancolia, olhando ao redor e vendo essa ‘história contada por um idiota, sem qualquer significado’, eles decidem livrar-se do corpo. Se eles pudessem ter asas no corpo, eles não teriam tomado tal decisão. O suicídio tem também um outro significado, e isto tem que ser entendido. Na vida tudo parece ser comum, simples imitação. Você não pode ter um carro que os outros não têm. Milhões de pessoas têm o mesmo carro que você tem. Milhões de pessoas estão vivendo a mesma vida que você, vendo o mesmo filme, o mesmo programa de TV, lendo o mesmo jornal. A vida é tão comum, nada de único é deixado para você fazer, para você ser. O suicídio parece ser um fenômeno único: somente você pode morrer por si mesmo; ninguém mais pode morrer por você. A sua morte será a sua morte, não será a morte de ninguém mais. A morte é única. Veja este fenômeno: a morte é única. Ela o define como indivíduo, ela lhe dá individualidade. A sociedade tirou a sua individualidade; você é apenas um dente na engrenagem, substituível. Se você morrer, ninguém irá sentir sua falta, você será substituído. Se você é um professor universitário, um outro professor universitário irá substituí-lo. Mesmo se você for o Presidente da República, no momento em que não for mais, um outro se tornará Presidente, imediatamente. Você é substituível. Dói saber que seu valor não é muito, que não sentirão a sua falta, que um dia você vai desaparecer e, logo depois, aquelas pessoas que ainda se lembram de você irão também desaparecer. E então, será como se você nunca tivesse estado ali. Simplesmente pense em tal dia. Você vai desaparecer... Sim, por um certo tempo as pessoas irão se lembrar, o seu namorado irá se lembrar de você, seus filhos irão se lembrar, talvez uns poucos amigos também. Mas, pouco a pouco, a memória que eles têm de você vai perder as cores, vai se enfraquecer e começará a desaparecer. Talvez, enquanto estiverem vivas, aquelas pessoas com as quais você teve um certo tipo de intimidade, irão lembrar-se de você, de vez em quando. Mas uma vez que elas também tenham ido, você simplesmente desaparecerá, como se nunca tivesse existido. Então não haverá qualquer diferença se você esteve aqui ou não. A vida não lhe dá um único respeito. Isto é muito humilhante. Isto leva você para um buraco onde você nada mais é que um dente na engrenagem, um dente no vasto mecanismo. Isto faz de você um anônimo. A morte pelo menos é única. E o suicídio é ainda mais único que a morte. Por quê? Porque a morte acontece a você e o suicídio é algo que você faz. A morte está além de você, quando ela chega, simplesmente chega. Mas o suicídio você pode dirigir, você não é uma vítima. Com a morte você será uma vítima, com o suicídio você estará no controle. O nascimento já aconteceu. Você nada pode fazer quanto a isto, e você não fez coisa alguma para nascer. O nascimento foi um acidente. Existem três coisas na vida que são vitais: nascimento, amor e morte. O nascimento já aconteceu; não há nada mais para se fazer a respeito. Você não foi sequer consultado se queria nascer ou não. Você é uma vítima. O amor também acontece; você nada pode fazer a respeito, você está desamparado. Um dia você se apaixona por alguém e nada consegue fazer quanto a isto. Se você quiser se apaixonar por alguém, não há como controlar isso, é impossível. E se você se apaixonar por alguém e não quiser que essa paixão aconteça, será muito difícil sair de tal situação. O nascimento é um acontecimento, e assim também é o amor. Agora resta apenas a morte a respeito da qual algo pode ser feito: você pode ser uma vítima ou pode decidi-la por si mesmo. Um suicida é alguém que decide e diz, ‘Deixe-me pelo menos fazer uma coisa nesta existência onde eu sou quase que acidental: eu vou cometer suicídio. Existe pelo menos uma coisa que eu posso fazer.’ O nascimento é impossível fazer; o amor não pode ser criado, se ele já não estiver ali; mas a morte tem uma alternativa. Ou você pode ser uma vítima ou pode ser quem decide. Esta sociedade tirou-lhe toda a dignidade. É por isto que as pessoas cometem suicídio. O suicídio lhes dá uma certa dignidade. Eles podem dizer a Deus, ‘Eu renunciei ao seu mundo e à sua vida. Eles não tinham valor.’ As pessoas que cometem suicídio são quase sempre mais sensíveis que as outras que continuam vivendo e se arrastando. Mas eu não estou lhe dizendo para cometer suicídio. Eu estou lhe dizendo que existe uma outra possibilidade muito mais elevada. Cada momento da vida pode ser muito lindo, individual, sem imitação e sem repetição. Cada momento pode ser muito precioso! Então não há necessidade alguma de cometer suicídio. Cada momento pode trazer tantas bênçãos e pode defini-lo como único – porque você é único. Nunca existiu alguém como você antes, e nunca existirá depois. Mas a sociedade o obriga a ser parte de um grande exército. A sociedade não gosta de uma pessoa que segue o seu próprio caminho. A sociedade quer que você seja parte da multidão: seja um hindu, seja um cristão, seja um judeu, seja um americano, seja um indiano – mas seja parte de uma multidão; não importa qual multidão, mas seja parte de uma multidão. Nunca seja você mesmo. E aqueles que querem ser eles mesmos, o sal da terra, estas são as pessoas de maior valor nesta terra. A terra tem um pouco de dignidade e fragrância devido a estas pessoas. Mas elas cometem suicídio. O sannyas e o suicídio são alternativas. Esta é a minha experiência: você pode se tornar um sannyasin somente quando chegar a um ponto em que, se não for o sannyas, então só lhe resta o suicídio. O sannyas significa, ‘Eu tentarei tornar-me um indivíduo enquanto estou vivo. Eu viverei a minha vida do meu próprio jeito. Eu não serei dominado, não aceitarei que me ditem o que fazer. Eu não funcionarei como um mecanismo, como um robô. Eu não terei ideais nem metas. Eu viverei cada momento, na excitação de cada momento. Eu serei espontâneo e arriscarei tudo por isto.’ O sannyas é um risco. Jane, eu gostaria de lhe dizer: eu olhei em seus olhos; a possibilidade de suicídio está aí também. Mas não pense que você terá que cometer suicídio – o sannyas cuidará disso. Você é muito mais afortunada que as quatro pessoas de sua família que cometeram suicídio. Na verdade, qualquer pessoa inteligente tem a capacidade de cometer suicídio, somente os idiotas nunca cometem. Você já ouviu falar de algum idiota que cometeu suicídio? Ele não se preocupa com a vida, por que cometer suicídio? Somente uma inteligência rara começa a sentir a necessidade de fazer alguma coisa, porque a vida como está sendo vivida não vale a pena. Assim, ou faça alguma coisa ou mude a sua vida, dê a ela uma nova forma, uma nova direção, uma nova dimensão. Por que continuar carregando esse fardo de pesadelos, dia após dia, ano após ano? E isso vai continuar... A ciência médica está ajudando as pessoas a continuarem por mais tempo ainda – cem anos, cento e vinte anos. E agora essas pessoas estão dizendo que o homem pode viver facilmente até perto dos trezentos anos. Simplesmente imagine se as pessoas tiverem que viver por trezentos anos: a taxa de suicídio irá subir muito, porque mesmo as mentes medíocres começarão a refletir sobre a falta de sentido da vida. |
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